SÃO PAULO – Pela nova vez consecutiva, o Copom (Comitê de Política Monetária) elevou a taxa básica de juros, a Selic, que alcançou 11% ao ano. A taxa funciona como um piso de juros para a economia. Quando ela sobe, o juro do crédito para todas as linhas de financiamento também aumenta. O crédito para financiamento imobiliário não é exceção.
Apesar de não acreditar em mudanças significativas de imediato nos contratos de financiamento após o aumento do juro, o professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV-EAESP), Fábio Gallo, lembra que mesmo sendo mais barato que outras fontes de empréstimos, o crédito para financiar imóveis no Brasil ainda é caro se comparado a outros países. "E a taxa de juro mais cara pode inibir, por parte dos consumidores, a busca por financiamento, mesmo que ainda seja de grande interesse por parte dos bancos em oferecê-la", afirma Gallo.
Outros dois efeitos do aumento da Selic foram apontados pelo professor especialista em finanças da Faculdade FIA, Rodolfo Leandro de Faria Olivo. O primeiro é uma possível redução por parte dos bancos da capacidade de oferecer crédito para esta finalidade. Segundo ele, o juro mais alto favorece os investimentos em CDBs (Certificado de Depósito Bancário), que concorrem com a caderneta de poupança para captar dinheiro do público.
Isso porque a poupança possui uma taxa fixa de rendimento quando a Selic está acima de 8,5%, tornando a aplicação em outros fundos de investimentos mais atrativa, como os CDBs, que ficam mais interessantes que a caderneta de poupança.
O fato é que a poupança é uma fonte muito importantes de recursos de financiamento do crédito imobiliário. “Por conta dessa concorrência, há uma migração da caderneta de poupança para os fundos e menos recursos ficam disponíveis para o crédito imobiliário”, explica o especialista.
Essa redução de recursos para o financiamento imobiliário teria como efeito, segundo ele, um aumento da taxa de juro no curto prazo. “Se o banco tem a mesma quantidade de pessoas para emprestar dinheiro, ele vai ser mais rigoroso na concessão do crédito”, complementa.
Menos recursos para construções
Outro efeito deve ser sentido no prazo de seis meses e um ano é um desincentivo para novas construções. Caso o juro permaneça em uma tendência de alta, o custo de capital para novos investimentos também sobe.
“Ficaria mais caro para as construtoras investirem em novos imóveis, pois elas também têm que se financiar. Uma construtora não tem caixa, não tem dinheiro próprio para construir o prédio. Se o dinheiro se tornar mais caro, as construtoras vão tomar menos dinheiro e terão menos condições de criar novas unidades de imóveis”, afirma.
Segundo o professor da FGV, Rodolfo Olivo, atualmente uma grande quantidade de imóveis estão sendo entregues, fruto de investimentos de aproximadamente um ano antes. Já com a taxa Selic em uma tendência de elevação, não haveria tanto incentivo para novos empreendimentos, reduzindo a quantidade de imóveis a serem entregues no médio prazo.
Com a redução de oferta de imóveis, os preços - que passaram por forte alta nos últimos dez anos - caminhariam, segundo o especialista, para um leve queda seguida de estabilização, descartando, em sua visão, uma possível bolha no setor imobiliário. “O Brasil não é tão alavancado como os Estados Unidos. Por isso não acredito em uma bolha imobiliária. Acredito até um leve declínio dos preços no curto prazo, levando a uma estabilização, mas não em uma queda brusca nos preços", conclui.