SÃO PAULO – O aumento da vacância (relação entre o volume de imóveis disponíveis e o volume total existente) não configura uma bolha imobiliária no setor comercial, na opinião do presidente da consultoria imobiliária Colliers no Brasil, Ricardo Betancourt. “O que existe é uma 'superoferta'”, afirmou o executivo, em entrevista ao InfoMoney.
Segundo dados da consultoria, o inventário (área construída) de imóveis logísticos no país passou de 6,346 milhões de metros quadrados em 2012 para 8,065 milhões no final do ano passado. Ao mesmo tempo, a taxa de disponibilidade avançou de 13,3% para 17,67% no mesmo período.
“Na equação da oferta e da demanda, o problema não está na demanda. Está na oferta. No ano passado, a absorção dos condomínios de logística ficou na casa de 1,1 milhão de metros quadrados. É um volume expressivo. O mercado vem tomando espaço. O problema é que a oferta está maior”, disse.
No mercado de escritórios de alto padrão o cenário é parecido. São Paulo fechou 2013 com uma taxa de disponibilidade quase 10% maior do que a apresentada em 2012. Mas para o executivo, o problema maior está nas regiões periféricas, como Alphaville. Lá, o preço do aluguel já foi ajustado e ainda assim a taxa de vacância permanece elevada.
Já em regiões centrais e estratégicas para as empresas, como as avenidas Brigadeiro Faria Lima, Paulista e Juscelino Kubitschek, a vacância pode diminuir à medida que os locadores aceitem fechar contratos por um preço um pouco menor. “Tem vacância nessas regiões, mas porque não houve ajuste de preço. Se houvesse uma diminuição do preço, haveria tomador”, ressaltou. “De uma forma geral, o mercado vai se acomodando”, continuou.
Bolha é diferente
O presidente da Colliers afirmou que uma bolha imobiliária se dá em um cenário diferente do que estamos vivendo no mercado de imóveis comerciais. “Bolha acontece quando você tem excesso de possibilidade de financiamento. Quando se compra para especular, se financia 100% do imóvel e vende daqui a 2 meses, por exemplo. Isso gera uma bolha de especulação muito rápida. Mas não é o que acontece agora. Temos que entender que estamos em uma época ‘superofertada’. O mercado tem que ofertar menos”.
Para ele, este movimento reflete um ciclo imobiliário, natural na economia do país. “O ciclo no mercado de escritórios, historicamente, acontece a cada 10 anos aqui no Brasil. Nós tivemos uma baixa no começo dos anos 90; também houve baixa em 2002 e 2003 e agora estamos vivendo outro momento de queda. É natural, o mercado tem que se ajustar”, afirmou.
Ao mesmo tempo, o executivo acredita que isso pode gerar oportunidades para os investidores. “Quem for ‘frio’ e estudar o mercado vai comprar bem”, acredita. Segundo ele, os brasileiros ainda tem uma relação de ‘apego’ com os imóveis, mas isso tem mudado nos últimos anos. “O investidor estrangeiro ensinou ao mercado que tem hora de entrar e hora de sair. Nós, pela cultura latina, somos muito apegados, não gostamos de vender. Mas todos que saíram na alta recente se deram bem”, concluiu.